segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

ALUNOS DA REDE PÚBLICA TIVERAM AULAS PRESENCIAIS SUSPENSAS DURANTE A PANDEMIA E SÃO PREJUDICADOS

 Gerou muita angústia e foi gerindo, nos profissionais, quando perceberam o distanciamento do retorno, mesmo tendo todas as ferramentas em mãos


             Era exatamente março de 2020, quando as aulas presenciais da rede pública, no Brasil, foram suspensas por conta da Pandemia da COVID-19, e começava uma nova forma de ensino, o ‘regime remoto’, que se estendeu até maio de 2021, e, quase todos os estados brasileiros aderiram a essa nova modalidade de ensino.

Segundo a coordenadora de Unidade Educativa do Estado do Ceará, Maria Lima, o ensino remoto já estava previsto e, assim que recebeu ordens para fechar as portas da escola, se reuniu com sua equipe e começaram a articular com as famílias dos alunos. “O ensino remoto já estava em minha mente e, no dia 18 de março de 2020, fomos solicitados a baixar as portas e iniciamos as conversas com os pais explicando como seriam as aulas dali em diante”, disse a gestora.

É sentido por todo o mundo o caos pandêmico em que todos estão atravessando, e os profissionais de educação foram capazes de se reinventarem. “Todos os setores, do maior ou menor, sentiram muito e não foi diferente com a educação. Sacudimos o sentimento de impotência e tiramos da gavetinha nossas habilidades e capacidade para reinventar”, afirmou a coordenadora.  

Ainda de acordo com a gestora, Maria Lima, esse tempo pandêmico foi  difícil, isso porque os profissionais achavam que voltariam em uma semana ou duas. E isso gerou muita angústia e foi gerindo, nos profissionais, quando perceberam o distanciamento do retorno, mesmo tendo todas as ferramentas em mãos. “Começamos a pesquisar aplicativos de todos os formatos para tornar nossas aulas interessantes. Incrível foi o amor que conseguimos envolver nas famílias”.

 A aprendizagem, nesse período atípico, atingiu a muitos de forma positiva, porém, mais ainda de forma negativa, visto que a aula presencial é algo apaixonante, pois a presença real do professor gera afetos e incentivos capazes de mudar formas de pensar e agir. “O professor nunca será substituído por máquinas e nem equipamentos, embora seja, mas aí estaríamos condicionados a propor à sociedade um afastamento que iria abalar as estruturas sociais. O computador nunca iria atingir 100% dessas condições humanísticas”, pontuou a gestora.

 A coordenadora apontou, também, a questão da mudança e inclusão dos alunos da rede pública e a importância da parceria entre os familiares e a escola. “Passos seguros e consistentes já estão sendo feitos e testados para a mudança e a inclusão. Acredito que a boa vontade agregada com condições de realizações com certeza iremos obter sucesso. Porém, afirmo, parceria família/escola é indispensável para o sucesso das crianças e da sociedade. A continuidade de estratégias com todos os segmentos da educação, trazem sempre estudos significativos e de funcionalidade exitosa capaz de ascender as condições de sucesso da nossa rede de educação pública”, finalizou Maria Lima.

Medo, resistência e insegurança dos pais e professores

O professor e pai de aluno da rede pública, Antonio Silva, relatou o quão difícil foi durante e pós-pandemia. “Diante de um caos de muita gravidade e não esperado por nós, podem afirmar que a insegurança plateia esse momento inusitado de nossas vidas. Eu, além de professor, também tenho adolescente em casa que estuda em escola pública. Aqui na minha casa, sentimos em dobro tudo que se passa, pois somos uma família inserida na educação. Assim, pude compreender, além de sentir que nossos alunos também têm dúvidas, dificuldades e medos”.

Ainda de acordo com o professor, a retomada às salas de aulas em sua região foi com o ensino híbrido no dia 08 de setembro de 2021. Antes do retorno, os profissionais de educação prepararam as famílias e os estudantes sobre os protocolos de segurança da escola que foi oferecido baseado em estudos e orientações das autoridades de saúde. “Tínhamos interesse que o retorno fosse um sucesso... e foi, nossa escola encerrou suas atividades do ano letivo de 2021 no dia 23 de dezembro e pudemos afirmar que, não fomos a causa de aumento da COVID-19 e demais casos gripais. Porém, quanto à aprendizagem dos alunos, estamos seguindo a nova empreitada com confiança no potencial múltipla de todos os envolvidos no processo educativo”, explicou.

 Já para a estudante do ensino fundamental da rede pública, Ana Clara de 14 anos, estudar durante a pandemia foi muito difícil, porque estudava no celular e se distraía em todos os momentos com os barulhos em sua casa, além da internet ser ruim. “Foi bem difícil estudar em casa, fiquei muito ansiosa e estudar em celular é muito ruim, pois o conteúdo ficou mais complicado”.

Ela relatou, também, que na retomada em sala de aula foi híbrida e que teve muito medo de pegar a COVID-19, mas a escola seguiu todos os protocolos, e todos os estudantes foram orientados pelas normas da saúde pública.

Pesquisa sobre o medo dos pais em levar seus filhos para a escola

Uma pesquisa realizada recentemente pela Behup mostrou que os pais tiveram muita resistência em levar seus filhos para escola e que, na rede pública, apenas 34% dos pais confiam que as escolas estejam preparadas com os protocolos sanitários.

A pesquisa também apontou que, com o fechamento das escolas, os pais alegaram que teve impacto diretamente na saúde mental dos seus filhos.

v  Vício em jogos e celular 75%;

v  Irritação exacerbada 45%;

v  Sem vontade de fazer nada 40%;

v  Alterações no sono 39%;

v  Regressões de comportamento 20%;

v  Isolamento 17%;

v  Crises de pânico ou medos exagerados 15%;

v  Pensamentos suicidas 3%;

v  Outros 2%.           

Fonte: Behup

De acordo com a UNESCO, os estados das regiões Sul e Sudeste foram os primeiros a aderirem à volta das aulas presenciais, mesmo que gradualmente e escalonada, ou seja, alguns alunos retornaram às aulas presenciais e outros foram retomando aos poucos de forma híbrida. Contudo, teve regiões que não retomaram nem presencial e nem híbrida, mesmo com as vacinas já terem sido iniciadas em junho de 2021.

Segundo relatório das Nações Unidas, o Brasil foi um dos países que passou mais tempo com as escolas fechadas. E, no início do ano de 2021, teve a retomada às salas de aulas, mas foram interrompidas novamente pela segunda onda da COVID-19, que fez o Brasil chegar a ter 4.000 mortos por dia.